O Portal Renascentista e a Conservação e Restauro: História de uma Trasladação, por Nuno Proença
O Portal Renascentista do Museu Municipal de Dr. José Formosinho, belíssima peça com dois medalhões marmóreos magnificamente esculpidos, e importante manifestação da arquitectura renascentista do Algarve, pertencia originalmente à antiga Igreja da Irmandade do Corpo Santo do Compromisso dos Pescadores e Marítimos de Lagos e foi transferido pela primeira vez em 1930, para servir de entrada ao Museu, pelo seu fundador e director, Dr. José Formosinho. Em 2019, o projecto de Remodelação e Ampliação do Museu Municipal tornou necessária nova transferência do Portal, desta vez da entrada para o interior do Museu.
A Câmara Municipal de Lagos contemplou esta transferência como uma intervenção da esfera da Conservação e Restauro, assegurando desta forma uma praxis operativa e metodológica que se traduziu na definição de um processo dedicado e integralmente conduzido por especialistas. Para a Conservação e Restauro, este processo visou, acima de tudo, garantir a salvaguarda sustentável dos valores culturais do Portal, percebendo qual a melhor forma de respeitar a autenticidade e integridade física, histórica e estética do objecto durante a trasladação para o seu novo contexto arquitetónico e expositivo; neste âmbito, et pour cause, pretendeu-se igualmente corrigir alguns problemas de posicionamento de peças, fruto da transferência de 1930, por forma a melhorar as condições conservativas do conjunto; bem como travar fenómenos de degradação em progresso sobre os materiais líticos.
A abordagem da Conservação e Restauro aos objectivos delineados partiu da observação aprofundada e da análise crítica das especificidades do Portal, compreendendo materiais, tecnologia e articulação das partes num todo de excepcional valor cultural; e interpretando instabilidades e processos degradativos que pudessem ameaçar a sua preservação. Nesta óptica, a chave foi sem dúvida a exaustiva documentação de todas as fases do processo – não só para indispensável apoio ao planeamento e execução da intervenção, mas igualmente para memória futura sobre o percurso conservativo deste objecto único. A comunicação versará sobre o Portal-entrada existente, o modus operandi de desmontagem e subsequente remontagem, e o muito que se aprendeu sobre o Portal-monumento que permanece agora como peça museológica de pleno direito.
NOTA BIOGRÁFICA
Nuno Proença
Conservador-restaurador formado no Istituto Centrale del Restauro, em Roma, Itália. Possui mais de 30 anos de experiência profissional, a nível nacional e internacional (Argentina, Espanha, Índia, Itália), na conservação e restauro de património cultural e na direção e gestão de projetos, frequentemente interdisciplinares.
Dedica-se primordialmente à conservação de património edificado e integrado, em diversos contextos, tipologias e materiais, incluindo bens classificados implantados em paisagens urbanas e naturais, em contextos civis e religiosos, arqueológicos, históricos e contemporâneos.
Participa no desenvolvimento de ferramentas conceptuais e técnicas de conservação, como a biomineralização, um sistema inovador de consolidação de materiais inorgânicos; e a gestão dos riscos em património construído, sobretudo no âmbito de parcerias europeias. Colabora regularmente com centros de investigação, em encontros e publicações técnico-científicas, e desenvolve atividade pedagógica e de consultoria.
Administrador da Nova Conservação, S.A. (www.ncrestauro.pt), empresa criada em 1994 que atua exclusivamente na área do património cultural, realizando estudos, projetos, e intervenções de conservação e restauro, algumas distinguidas por instituições de referência, e.g. EUROPA NOSTRA.
Sócio fundador da ARP – Associação Profissional de Conservadores-Restauradores de Portugal.